Contenção da Covid-19 afeta pesca em Rabo de Peixe

Com pouco mais de 200 casos ativos no dia de ontem, a vila de Rabo de Peixe continua a ser a localidade açoriana mais afetada pela Covid-19.

Uma situação que está a causar grandes problemas à comunidade piscatória de Rabo de Peixe, que representa cerca de 75 por cento de todo o setor em São Miguel.
Não só porque os casos de Covid-19 têm atingido os pescadores nesta segunda vaga – o que não tinha acontecido na primeira vaga no ano passado – mas sobretudo porque as medidas restritivas para conter a doença estão a afetar bastante o setor em Rabo de Peixe.

Quem o diz é o presidente da Federação das Pescas dos Açores, Gualberto Rita, em declarações ao Açoriano Oriental e para quem são necessários apoios urgentes dirigidos aos pescadores de Rabo de Peixe.

É que, para além de haver pescadores impedidos de ir ao mar por estarem em confinamento, quem está apto a trabalhar enfrenta neste momento outros problemas como o impedimento de desembarcar e descarregar peixe noutras ilhas. Refira-se que algumas embarcações palangreiras de Rabo de Peixe costumam deslocar-se para as águas do Grupo Central para irem pescar, mas apesar de não estarem impedidas de o fazer, o facto de não poderem acostar nos portos dessas ilhas inviabiliza muitas vezes essa deslocação, a não ser que as condições de mar sejam as ideais e permitam o regresso a São Miguel em segurança.

Por outro lado e mesmo sem sair de São Miguel, os pescadores de Rabo de Peixe estão também com dificuldades devido à cerca sanitária para conter o surto de Covid-19 na vila e evitar a sua propagação para outras localidades de São Miguel.

Isto porque, neste momento, os pescadores que têm a sua base no porto de Rabo de Peixe só podem acostar e descarregar nesse porto, o que é válido para outros portos de São Miguel mas afeta sobretudo Rabo de Peixe, uma vez que quem pesca chicharro ou lula e há muitos pescadores destas duas espécies em Rabo de Peixe, tem as saídas para o mar bastante dificultadas porque, se for pescar para a costa sul, tem de regressar obrigatoriamente a Rabo de Peixe. E sair para o mar nessas condições pode pôr em causa a segurança de homens e embarcações porque, caso o tempo piore subitamente, os pescadores têm de se regressar do sul da ilha à costa norte, em vez de se dirigirem para o porto de abrigo mais próximo.

O presidente da Federação das Pescas dos Açores, Gualberto Rita, não põe em causa as medidas de segurança sanitária que são neste momento necessárias para conter a Covid-19 em São Miguel mas pede, por isso, um apoio urgente aos pescadores de Rabo de Peixe, que vá para além do já anunciado FundoPesca, que não abrange todos os pescadores.

Gualberto Rita afirma que “temos estado em contacto permanente com a secretaria regional do Mar e das Pescas para que sejam adotadas medidas, não só a nível regional, mas também especificamente para Rabo de Peixe, para colmatar a quebra de rendimentos que tem existido”. Uma das medidas é o acionamento do regime excecional de apoio ao rendimento dos pescadores, criado já em contexto de pandemia, para auxiliar quem não é elegível ao apoio do FundoPesca.

O presidente da Federação das Pescas dos Açores pede ainda uma agilização dos procedimentos para a antecipação do pagamento das ajudas do Regime de Compensação dos Sobrecustos da Pesca, o POSEI-PESCAS, verbas que são pagas normalmente durante o verão mas que poderiam ser antecipadas nesta situação excecional, quando a atividade sofre bastante com os efeitos da pandemia.

O presidente da Federação das Pescas dos Açores considera ainda haver a necessidade de um reforço de verbas da União Europeia para fazer face à crise económica que se tem feito sentir no setor, com a criação de mecanismos de apoio para a cessação temporária da atividade em 2021 e para a regulação dos mercados.

Até porque, conclui Gualberto Rita, “se não forem tomadas medidas urgentes no âmbito da pandemia para o setor da pesca, poderemos estar a falar da falência de muitas empresas, sobretudo as mais pequenas”.

Setor ‘perdeu’ cinco milhões em 2020 e este ano pode ser ainda pior

O ano de 2020 foi mau para os pescadores açorianos, não tanto ao nível das capturas, mas sobretudo ao nível do valor da pesca, que caiu cinco milhões face ao rendimento total de 2019.

E os números só não são piores porque o setor da pesca só pontualmente parou em contexto de pandemia durante o ano passado, podendo no essencial de 2020 exercer a sua atividade. O problema esteve sobretudo na grande redução do turismo nos Açores, o que afetou bastante as vendas de peixe para a restauração e hotelaria. Mas também na retração dos principais mercados internacionais de exportação do peixe dos Açores, com Espanha e Itália à cabeça, dois países muito afetados pela pandemia em 2020.
Dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), mostram que no ano de 2020 o valor da pesca descarregada nos Açores caiu mais de cinco milhões de euros por comparação com 2019, baixando de 33,9 milhões para 28,8 milhões de euros. Percentualmente, a quebra de 2019 para 2020 foi de 15%, mais do dobro do valor percentual da quebra na quantidade de pescado descarregado nos Açores, que não chegou a 7%. Ou seja, foram descarregadas nos Açores em 2020 menos cerca de 500 toneladas de pescado, baixando o total de capturas de mais de 8100 para cerca de 7600 toneladas.

As espécies mais afetadas, sobretudo na quebra do preço, foram as tradicionalmente mais valorizadas, como o cherne, o goraz, o alfonsim ou o imperador. Em declarações ao Açoriano Oriental, o presidente da Federação das Pescas dos Açores, Gualberto Rita, alerta que mais do que lamentar os números de 2020, é preciso ter em conta que o pior ainda pode estar para vir, “porque estamos a prever que o que se passou em 2020 se repita em 2021, mas de uma forma mais grave”.

Fonte: Açoriano Oriental