Pesca retoma nas capturas mas não no preço

Depois da paragem em março, devido à pandemia, a pesca retomou as capturas em abril, mas os preços das principais espécies baixaram. Federação pede isenção das taxas de lota até final do ano.

O ano de 2020 tinha tudo para ser um bom ano para a pesca. O estado do tempo nos últimos quatro meses tem ajudado e até o atum – espécie muito volátil – tem aparecido em boa quantidade este ano no mar dos Açores.

Mas a realidade imposta pela pandemia de Covid-19 baralhou totalmente as contas dos pescadores, apesar do setor só ter parado em março, no início do confinamento, altura em que os mercados bloquearam e mais de 80% da frota chegou a estar em terra.

A partir de abril, as capturas retomaram para quantidades superiores às de 2019, ajudadas pelo atum, mas o preço das principais espécies, aquelas que contam verdadeiramente para o bolso dos pescadores, baixou.

Em causa estão espécies de exportação como o cherne, o goraz, o alfonsim ou o imperador e o próprio atum, cujos preços em lota baixaram cerca de 20%, alerta em declarações ao Açoriano Oriental o presidente da Federação das Pescas dos Açores, Gualberto Rita.

“O que se está a passar é que temos maiores quantidades descarregadas em lota, mas com menos valor, principalmente nas espécies mais nobres de exportação, que normalmente vendemos a preços mais elevados”, afirma.

Gualberto Rita reconhece a dificuldade dos vendedores neste momento em escoar o peixe, seja porque as ligações aéreas ainda não estão totalmente regularizadas para os padrões normais, seja sobretudo porque existe uma redução do consumo e uma grande incerteza nos mercados tradicionais de escoamento do peixe açoriano,como o mercado continental, o espanhol e o italiano, sendo que estes dois últimos países foram particularmente afetados pela pandemia de Covid-19, com fortes recessões nas suas economias.

Gualberto Rita afirma também que o setor esperava que a medida da isenção das taxas de lota tomada pelo Governo dos Açores para auxiliar a fileira da pesca a fazer face aos efeitos da pandemia tivesse tido um efeito maior no preço a pagar ao produtor, o que não se tem verificado, seja na primeira venda em lota para abastecimento dos mercados, seja na venda do atum para a indústria conserveira.

Gualberto Rita alerta para desvalorização das espécies nobres

Por isso, o presidente da Federação das Pescas dos Açores pede um alargamento do final de setembro pelo menos até ao final do ano dessa isenção, que inclui as taxas para o pescador e comerciante de pescado, mas também para o gelo e para conservação frigorífica.

Isto, para que esta isenção possa abranger ainda toda a safra do bonito, que começa na segunda metade do verão, depois da safra do atum patudo e voador.

“Nós pedimos ao Governo para que a isenção se mantenha durante mais algum tempo, até para permitir que, por exemplo, na safra do atum não haja uma descida no preço, tanto em lota como para a indústria, que já deu a saber que, aplicando-se de novo as taxas na congelação e conservação, teria de baixar o preço do bonito, o que seria uma quebra de rendimentos significativa para os pescadores”, afirma Gualberto Rita.

O presidente da Federação das Pescas dos Açores refere ainda que o prolongamento da isenção de taxas também se pode justificar dado o risco de uma eventual segunda vaga da pandemia no outono.

Fonte: Açoriano Oriental